domingo, 21 de outubro de 2012

E Aí, Comeu? – A Complexa Maneira Masculina de Falar Sobre Sexo Com os Amigos


Uma coisa que sempre me intrigou foi a capacidade masculina de discorrer horas sobre assuntos limitados – tipo futebol – e se calarem diante de assuntos tão interessantes a todo ser vivo, como o sexo. Outro dia sentada numa roda de velhos amigos machos, observei o complexo processo das confidências sexuais masculinas desde o princípio. O sujeito tinha saído com uma colega do trabalho desejada por 98,9% do resto do time. O caso demorou a se desenrolar até os finalmente e os amigos acompanharam de leve a novela. Digo de leve porque, num universo feminino, o sujeito teria sido bombardeado com perguntas e opiniões a cerca do desenrolar da história. Eu ali, na expectativa de ouvir relatos detalhados de uma experiência sexual vindo da boca de um homem, mais uma vez me frustrei. Eis a transcrição da conversa profunda que rolou:
[amigos] - Tá com cara de felizão. E aí, comeu?

[o sujeito] – Comi, cara.

[amigos] – E aí?

[o sujeito] – Gostosa pra caralho.

[amigos] – Da hora. Viu aquele carro novo que a Ford acabou de lançar?

Oi?

Enquanto roía as unhas esperando pelos detalhes sórdidos da intimidade com a gostosa, tive que me contentar com essa resposta elementar. Até tentei reavivar a conversa, puxar assunto, perguntar detalhes mas, como única representante feminina na mesa, não tive eco. O problema não parecia ser o fato de expor o assunto diante de uma mulher. Parecia haver um pacto silencioso entre os amigos do clube que dizia que esse tipo de assunto deveria ser respeitado acima de tudo. Tudo bem expor o outro pelo nariz grande, pela pança de cerveja, pela bronca que ele levou do chefe, pelo PT alcançado na última festa. Agora quando o assunto é detalhes da vida sexual, ninguém se manifesta. Há uma regra que parece ditar um toque de se calar. Ninguém faz piadinha, ninguém zoa, ninguém pergunta detalhes. Vale lembrar que o silêncio não costuma acontecer para preservar a identidade/integridade da moça – o objetivo parece mesmo ser preservar a integridade masculina. Comer quieto é literalmente a lei que reina no time dos homens.

Mulheres acompanham mais a vida sexual das amigas do que novela. Em encontros das Luluzinhas relacionamentos alheios sempre entram em pauta. Não que elas sejam seres limitados que não têm mais sobre o que falar e nem que elas adorem expor os homens com quem saem. Acontece que no universo das mulheres, compartilhar as vitórias e as derrotas na cama e na vida é de praxe. Sim, elas contam pra quem deram e se o cara tinha pinto bonito, mas não param por aí. Mulheres compartilham técnicas, expõem dúvidas, discutem soluções. Elas sabem que a saia justa que aconteceu com a amiga pode se repetir com ela. Se descobrem uma técnica matadora no sexo oral, compartilham sem medo da concorrência. Se o assunto esquenta – e principalmente se a roda estiver regada a algo alcoólico – elas discorrem sem amarras sobre como foi a experiência de tentar sexo anal e como gozaram gostoso enquanto ele lhe prendia as mãos e a chamava de cachorra. Assim mesmo. Sem vergonha.

Seguindo a linha do “juntas podemos mais”, as mulheres compartilham suas experiências e – como não poderia deixar de ser – tendem a entender em geral mais sobre sexo do que os homens. Elas se preocupam em melhorar, em aprender, em surpreender. E nada melhor do que fazer isso com amigas que certamente não irão fazer julgamentos – até porque, meu bem, todo mundo têm teto de vidro. Os homens, que costumam afirmar que gostam mais de sexo do que as mulheres, estão deixando a desejar no quesito evolução sexual. E uma das grandes culpadas é a lei da preservação camarada que impede que esse tabu bobo seja quebrado na roda de amigos. Afinal, como diz a sabedoria popular o tolo aprende com seus próprios erros. O sábio aprende com os erros dos outros.

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