sábado, 29 de setembro de 2012

Pelo Direito de Soltar Pum e Ter Grandes Pequenos Lábios


Três letras, um ruído e muitos constrangimentos. Um inocente substantivo que na cabeça das mulheres preenche o quarto, assola inseguranças e pode arruinar um momento. Pum. Sim, eu tô falando daquela vontade fisiológica que muitas vezes surge em momentos inadequados e provoca saias justas. Quem nunca, né? Você combina de ir jantar com o cara e enchem o bucho. Aí, horas depois, quando chega realmente aquele momento esperado da noite, você está se sentindo inchada. Então bate aquela tensão de não aguentar e sentir uma imensa vontade de liberar o estufamento bem na pior hora – tipo, quando ele está fazendo oral. E parece que quanto mais você pensa em se segurar, mais impossível fica controlar.

Seria cômico se não fosse trágico. E se o número de mulheres que já deixaram de transar ao passar por uma situação parecida como essa não fosse maior do que você imagina. Uma pesquisa inédita sobre a relação da mulher brasileira com seu intestino revelou  que 22% das mulheres já perderam o apetite sexual por medo de soltar gases na hora da transa. Já 57%, mais da metade das entrevistadas do Estudo SIM Brasil – Saúde Intestinal da Mulher, realizado pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) -, afirmaram que distúrbios intestinais afetam a sua vida sexual.

Eu fico me indagando por que alimentamos um medo enorme de algo que é inerente à natureza do ser humano, uma vontade fisiológica, algo que todo mundo faz. É claro que o momento não é um dos mais apropriados, mas o que as mulheres temem? Que ao deixar escapar o gás, o homem tenha uma disfunção erétil e abandone o quarto e a transa dizendo: “não faço sexo com peidorreiras!”, é isso? Porque na vida real (fora do terrível e imperdoável imaginário feminino) verdadeiros parceiros fingem que não escutam o sonzinho desagradável e continuam a fazer o que realmente interessa. Então por que esse medo?

Desde pequenas somos educadas a ter vergonha do nosso próprio corpo e a nos enquadrar em estereótipos socialmente aceitos. É igual a história da Cinderela, em que o pé da princesa tem que caber naquele minúsculo sapatinho. Ou seja, é a mulher que tem que ajustar a sua imagem aos padrões estabelecidos pela sociedade (machista). Nossas mães nos educam a cruzar as pernas, colocar a mão na frente quando bocejamos, esconder o pacote de absorventes no carrinho de compras e a nunca mencionar quando estamos menstruadas ou precisamos fazer o número dois. A nossa criação alimenta a ideia de que temos que ser uma princesa cor de rosa e viver no mundo da Barbie. E eu acho impressionante como isso pode afetar o nosso psicológico e criar neuras e encanações sem motivo.

Olha em que ponto as nossas neuras chegaram: não perdoaram nem a nossa pobre vagina, já que tem gente que insiste que “a vagina não é bonita, dá para ficar melhor”. Gente, como assim? A vagina tem a beleza de uma vagina! Você queria o quê? Passar a faca para transformar seus grandes lábios em um botão de rosa? Os entusiastas desse tipo de procedimento defendem que existem casos de mulheres que apresentam excesso de pele na região, causando “desconforto estético” e que a cirurgia serve para “corrigir essa distorção da anatomia local”. Ou seja, nem a nossa preciosa vagina conseguiu escapar das severas normas de padrões de beleza que sugerem que entremos na faca para ficar com o órgão genital milimetricamente calculado para parecer com o de uma atriz pornô.

Enfim, podem me chamar de feminista , mas apesar de acreditar que conseguimos muitas conquistas, ainda assim sofremos uma repressão sexual velada. Algo tão enraizado em nossa cultura que parece normal e socialmente aceito. Algo que ainda demanda muito trabalho para mudar. Mas, acredito que ao escolher não deixar de transar quando nos sentimos inchadinhas ou quando achamos que nossos pequenos lábios são maiores do que deveriam ser, já é um grande passo a caminho dessa mudança. Permita-se.

Texto de: Laís Montagnana

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