quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Eu posso dar pra todo mundo, mas não dou pra qualquer um


Preferia ter nascido homem. Foi o que disse Paula Lavigne em uma entrevista concedida à Revista TPM. Ao ser questionada porque, ela listou sem pensar muito, uma série de motivos que mostram que as mulheres estão em desvantagem - mulher tem cólica, TPM, vira uma Orca quando engravida, é comandada por hormônios que a fazem sentir como uma extraterrestre dentro do próprio corpo, tem que fazer malabarismo pra ir no banheiro sem encostar em nada como mamãe ensinou. Enfim, o mundo ainda é dos homens – ela concluiu.

Quando se ouve uma declaração desse tipo, a princípio, parece revoltante. Como uma mulher ousa dizer que os homens ainda estão no comando? Mas, depois que o seu lado feminista louco abaixa a guarda você conclui – é verdade. Ainda estamos em desvantagem. Até meados dos anos 60 e 70, os conteúdos das revistas femininas era como quarar a camisa do marido ou como passar roupa de um jeito que uma boa mulher deveria fazer. Começamos muito atrás na linha de largada e ainda não conseguimos os mesmos direitos que os homens. Ok, na lei sim. Se uma mulher que tiver o mesmo cargo que um homem ganhar menos do que ele, ela pode ir à justiça. Porém, tem muita coisa que não entrou nas normas oficiais e que continua podendo as mulheres – e não estou falando de sexo.

Mulher conseguiu seu direito de trabalhar fora. Viva. Mas, pera aí, faltou um detalhe – Quem cuida da casa agora? E dos filhos?

Mulher fica menstruada TODO santo mês (eu disse TODO, entendeu?). Além do sangramento que acompanha durante uma semana no mês (ou seja, um quarto de sua vida), tem TPM, cólicas, hormônios que as fazem achar que o mundo é uma merda quando tudo está bem. Cadê folga nesses dias? Se os homens menstruassem, eles se internariam no hospital mensalmente.
Mulher não pode andar sem camisa na rua. Por quê? Quem disse que os seios são uma parte sexual? Eles foram feitos pra amamentar, os homens que inventaram que eles são gostosos.
Mulher ainda usa salto alto e esse artifício é super cultuado pela sociedade como algo que as deixa mais bonitas e sexy. É muito fácil dizer isso pra quem não precisa se equilibrar em cima de uma agulha, com risco de cair, torcer tornozelo, ficar com varizes – sem falar nas bolhas que sempre aparecem por causa dos dedos que se espremem nas pontas finas dos sapatos. Será que elas gostam de verdade ou apenas se acostumaram? Eu aposto na segunda opção.

Mulher pra ir no banheiro público sofre. Ainda mais quando não tem ganchinho pra pendurar a bolsa, o que faz com que ela tenha que pendurá-la no pescoço, enquanto se equilibra naquela posição humilhante de semi-cócoras para não encostar em nada. E quando está menstruada então? Esforço dobrado.

Mulher tem que tomar pílula anticoncepcional todo dia às 18h se não quiser engravidar – como se não bastasse a quantidade louca de hormônios que temos, ainda mandamos mais alguns pra dentro.

Homem grisalho é um charme. Mulher grisalha é acabada.

Por isso, me revolto ainda em encontrar com muitos homens que dizem para todos os cantos que gostam de mulheres decididas, ninfomaníacas, que adoram uma safadeza mas, quando as encontram pelo caminho, se assustam, saem correndo. Ainda vemos muitos homens cultivando a mulher de família pra ter alguém pra sentar no banco do passageiro no carro mas que, quando elas viram as costas, vão direto pro casarão com número grande na porta. Será medo de ter uma mulher ao lado que não permita mais que ele seja o macho alfa com sempre foi?

O lado bom disso é que essa rejeição com relação às mulheres de atitude funcionam como um filtro – aqueles que se assustam, são uns bananas. Merecem mesmo o peso de ter que lidar com o fato que têm medo das mulheres. Se acham os machões mas, ao colocarem a cabeça no travesseiro toda noite, sabem que toda aquela auto-confiança é uma máscara que eles têm que carregar durante a vida. Já aqueles que buscam uma parceira com quem conviver na igualdade, lado a lado, recebem o prêmio de poder conviver com mulheres muito mais interessantes. Aliás, cada dia mais há menos escolha. Porque sim, ainda é muito mais difícil ser mulher nos dias de hoje mas, acredito que as descendentes da geração que queimou os sutiãs jamais permitirão um retrocesso. Elas chegaram até aqui e continuam marchando. Os que não souberem lidar com elas, ficarão chupando dedo. Porque, cada dia mais, a frase antiga porém atualíssima de Leila Diniz que se tornou título dessa coluna faz sentido: “Eu posso dar pra todo mundo, mas não dou pra qualquer um.”

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