domingo, 13 de maio de 2012

A Arte do Elogio


O lóbulo da orelha que faz uma curvinha perfeita, e que vez com maciez de brinde. Os cílios longos que parecem terem sido pintados de rímel por um maquiador celestial. Os dois furinhos nas costas, em cima do quadril, feitos sob medida para os seus dedos. O café mais gostoso do que de costume. A escolha certeira do presente. O boquete feito com maestria. Ser humano tem mania de economizar em palavras que tinham que ser ditas – tagarelas que somos, discursamos demais sobre o trivial e nos esquecemos de valorizar os detalhes lindos daquele ser do nosso lado.
Se você não diz, ela jamais saberá.

Não é que você não ache a coisa mais linda do seu mundo. Sempre que ela surge com aquele vestido soltinho, que dá ideia – porém não entrega – das maravilhas que esconde por debaixo dos panos, você pensa em como ela é linda. E acha que ela, telepaticamente, percebeu suas emoções pelo seus olhos que brilharam mais que de costume. Mas ela nem teve tempo de reparar nisso, pois fitava seus lábios, ansiosa por uma palavra de reconhecimento vinda deles. Elas jamais vieram. Você se lembrou do trânsito, do relógio que já marcava 20 minutos de atraso, do cardápio da noite. E mal sabe que, naquele momento, ela só queria um elogio seu.

Não que sejamos carentes sentimentais ambulantes. Todo mundo funciona com ou sem elogios, mas eles têm uma capacidade incrível de despertar o que há de melhor no outro. Afinal, faz parte do lado bom de viver em casal ter alguém que te lembra de como você é linda – em qualquer sentido – principalmente quando o elogio vem das coisas menos óbvias. Reparar que a moça de sutiã 46 tem um peitão é fácil. Difícil mesmo é reparar na pintinha que ela tem no canto da boca e que parece ser o toque de mestre que fecha aquela composição linda do rosto dela. Porque só quem gosta muito repara além do óbvio. Só quem celebra a presença do outro, vê enxergando de verdade – afinal, toda paixão começa nos detalhes.


E depois que você se acostuma com a arte do elogio, ela vira vício. Você não passa um dia sem pelo menos elogiar o cheiro do cabelo, a roupa nova, a decisão profissional, a baliza bem feita. Depois que você descobre que elogios são os principais alimentos da admiração, você não para de elogiar nunca mais. E seguindo a lei irrefutável da ação e reação, quem ganha elogios acaba devolvendo com a mesma moeda. Inicia-se, então, esse processo delicioso de encontrar, a cada dia, aqueles detalhes que te apaixonam repetidamente no outro e – o mais importante – exteriorizá-los até que alguém finalmente invente a telepatia.


Porque criticar é a coisa mais fácil do mundo.


Enxergar beleza onde ninguém mais a enxerga, é talento de quem vê além do óbvio. E é de pessoas assim que a gente precisa se cercar na vida.

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